A Operação Hospitalar e a Importância da Controladoria e Gestão de Custos
A operação hospitalar caracteriza-se por sua alta complexidade, seja pelo consumo intensivo de recursos, pelo quadro de colaboradores diretamente ligados ao atendimento, pela renovação tecnológica constante ou pela crescente pressão por eficiência. Além disso, envolve negociações contínuas com fontes pagadoras, tais como operadoras e seguradoras de saúde, bem como a busca permanente pela qualidade no atendimento ao paciente, foco central da instituição.
Nesse contexto, a sustentabilidade econômico-financeira é um fator crítico para os hospitais. É aqui que a controladoria e a gestão de custos assumem papel estratégico, oferecendo informações qualificadas para decisões rápidas e assertivas, garantindo alocação eficiente de recursos e equilíbrio entre excelência assistencial e viabilidade financeira:
1. Gestão Orçamentária e Planejamento
O orçamento hospitalar não deve ser tratado como um dado estático, mas como um plano de ação integrado, capaz de traduzir as diretrizes estratégicas em metas financeiras e operacionais. A controladoria exerce papel central nesse processo, garantindo:
- Alinhamento estratégico: o orçamento deve refletir as prioridades institucionais, incluindo expansão de serviços, investimentos em tecnologia e fortalecimento da qualidade assistencial;
- Participação das áreas: envolver setores assistenciais e administrativos no processo orçamentário fortalece o compromisso com os resultados;
- Acompanhamento contínuo: a análise mensal das variações entre valores realizados e orçados permite correções rápidas, evitando desequilíbrios financeiros ao longo do exercício.
No contexto hospitalar, o orçamento deve considerar variáveis externas como mudanças regulatórias, negociações com operadoras de saúde e oscilações nos custos de insumos e medicamentos.
Gestão Matricial de Despesas (GMD)
A GMD é uma metodologia de controle que permite monitorar e atribuir aos gestores o consumo de recursos em suas áreas. Em hospitais, essa prática é especialmente relevante uma vez que as despesas estão distribuídas entre diversas unidades de atendimento, onde temos o mesmo serviço, material, medicamento entre outros, utilizando da mesma base de controle e sendo registrado através de rateios diretos. Com isso, a prática da GMD possibilita:
- Identificação dos responsáveis pelas despesas: cada gestor passa a ser corresponsável pela eficiência do uso dos recursos sob sua alçada;
- Transparência: todos os envolvidos têm visibilidade sobre os principais custos e seus impactos nos resultados globais;
- Redução de desperdícios: ao empoderar líderes das áreas assistenciais e administrativas, promove-se maior conscientização sobre o uso racional de recursos.
Análise de Rentabilidade por Serviço ou Unidade
A controladoria contribui significativamente para a análise de rentabilidade por serviço, especialidade médica ou unidade hospitalar, permitindo identificar áreas superavitárias e aquelas que demandam mais recursos do que geram receita.
Essa análise subsidia decisões estratégicas, como:
- Reavaliação de contratos com operadoras de saúde;
- Negociação de tabelas de remuneração;
- Redesenho do portfólio de serviços;
- Balanceamento do subsídio cruzado entre áreas.
Sem esse olhar analítico, o hospital corre o risco de investir em setores que não contribuem para sua sustentabilidade a longo prazo.
Indicadores de Performance
A gestão estratégica requer métricas confiáveis. A controladoria hospitalar atua na construção e monitoramento de indicadores-chave de performance (KPIs), avaliando o desempenho financeiro e assistencial.
Alguns exemplos incluem:
- Indicadores financeiros: margem operacional, EBITDA, custo médio por paciente/dia;
- Indicadores assistenciais: taxa de ocupação, giro de leitos, tempo médio de internação;
- Indicadores de eficiência: custo por procedimento, custo de materiais e medicamentos por paciente, produtividade da equipe.
Esses indicadores permitem comparações entre períodos e benchmarks de mercado, orientando decisões estratégicas.
2. Gestão de Custo Aplicada à Saúde
A gestão de custos em hospitais requer a aplicação de metodologias sofisticadas e adaptáveis, capazes de capturar toda a complexidade da operação hospitalar. Diferentemente de outros setores da economia, onde os processos produtivos tendem a ser mais padronizados e previsíveis, o ambiente hospitalar apresenta características singulares como a elevada variabilidade clínica, a presença de múltiplos profissionais especializados e o consumo intensivo de insumos, medicamentos e tecnologias.
Cada procedimento ou linha de cuidado envolve diversas etapas interdependentes, variando em função do perfil do paciente e da complexidade clínica, além da disponibilidade de recursos. Por isso, a simples alocação de custos por critérios genéricos pode não refletir de maneira precisa o consumo real de recursos, tornando essencial a adoção de métodos de custeio que capturem as variáveis da operação hospitalar.
Dentre as metodologias aplicáveis, destacam-se:
- Custeio por absorção: método tradicional, previsto pela legislação contábil e fiscal, aloca todos os custos aos serviços prestados, fixos ou variáveis, diretos ou indiretos, mas apresenta limitações para análise de eficiência;
- Activity-Based Costing (ABC): aloca custos indiretos com base nas atividades que consomem recursos, superando limitações do custeio tradicional;
- Time-Driven Activity Based Costing (TDABC): evolução do ABC, simplifica sua aplicação ao utilizar o tempo como principal direcionador de custos, estimando o custo por recurso envolvido em cada processo;
- Custeio Baseado em Valor (VBHC): relaciona os custos aos desfechos em saúde alcançados pelo paciente, considerando recuperação e eventuais retornos ao hospital.
O TDABC apresenta equilíbrio entre precisão e simplicidade, permitindo calcular o custo real de procedimentos ou linhas de cuidado a partir do tempo consumido por médicos, enfermeiros, equipamentos e infraestrutura. Além disso, fornece informações para identificar gargalos, avaliar eficiência operacional e conectar custos a desfechos clínicos, características fundamentais para a gestão baseada em valor.
3. Sustentabilidade Alinhada à Excelência Operacional
A controladoria e a gestão de custos constituem instrumentos estratégicos indispensáveis para assegurar equilíbrio financeiro, eficiência operacional e excelência assistencial. Quando utilizadas de maneira inteligente, essas ferramentas transformam dados em conhecimento e conhecimento em decisão, promovendo alocação adequada de recursos e eliminação de desperdícios.
Mais do que reduzir custos, essas práticas garantem que cada investimento gere valor real para o paciente e para a instituição. Dessa forma, custos e controladoria consolidam-se como pilares de sustentabilidade e inovação na saúde, permitindo que os hospitais avancem em direção a um modelo mais eficiente, integrado e centrado em resultados clínicos e humanos.