Hospital do Coração realiza cirurgias intra-uterinas para malformações fetais

Hospital do Coração realiza cirurgias intra-uterinas para malformações fetais

Equipe do Hcor realiza intervenções para tratamento de casos como a síndrome de transfusão feto-fetal (STFF), hérnia diafragmática congênita (HDC), anomalias do sistema nervoso central (espinha bífida, hidrocefalia) e cardiopatias (estenose aórtica crítica, atresia pulmonar e hipoplasia do ventrículo esquerdo com forame oval restritivo).

Identificar anormalidades no feto é fundamental para um bom resultado da gestação:

A importância dos exames no período pré-natal é incontestável. Assim sendo, identificar problemas como malformações e alterações do bem estar fetal podem mudar significativamente o desfecho da gravidez. A ultrassonografia morfológica faz parte desses exames e deve integrar obrigatoriamente a rotina pré-natal.

Todo esse cuidado é justificado diante da incidência de bebês portadores de malformações congênitas, que chega a 2% de todos os nascidos vivos. As cardiopatias são as alterações mais frequentes, acometendo 1 a cada 100 gestações. Outra doença muito frequente, a espinha bífida aberta (mielomeningocele), ocorre em até 1 a cada 1000 gestações. A síndrome de transfusão feto-fetal (em gêmeos idênticos) e hérnia diafragmática congênita (HDC) têm incidências significativamente menores, mas oferecem grande risco de perda fetal quando não tratadas.

“O acompanhamento e o tratamento de um feto com malformação é, portanto, primordial para o bom resultado da gestação. Exames como a ultrassonografia morfológica, o ecocardiograma fetal e a investigação genética podem tranquilizar os pais. A partir do diagnóstico é possível decidir qual será o momento ideal e a melhor forma de realizar o tratamento”, afirma a Dra. Simone Pedra, cardiologista fetal e coordenadora da Unidade Fetal Hcor.

Referência no atendimento cardiológico, o Hospital do Coração, em São Paulo, inaugurou em 2009 a Unidade Fetal e conta com equipes especializadas no atendimento pré-natal não só a bebês cardiopatas, como também portadores de outras graves afecções detectadas intra-útero como a síndrome de transfusão feto-fetal, a válvula de uretra posterior, a hérnia diafragmática congênita, mielomeningocele, entre outras.

Síndrome de transfusão feto-fetal – STFF

A STFF ocorre somente em gestações gemelares monocoriônicas (dois fetos dividindo a mesma placenta), havendo um desequilíbrio entre as circulações sanguíneas dos gêmeos através de comunicações vasculares anormais entre ambos. Esta doença é muito grave e se não tratada rapidamente tem altas chances de evoluir com óbito de ambos os fetos. A STFF ocorre em 10 a 15% das gestações gemelares monocoriônicas.

“Neste caso, a intervenção cirúrgica intrauterina é feita com o auxílio do laser, usado para a cauterização dos vasos anômalos e interrupção da circulação anormal entre os fetos. Em casos de STFF grave, quando o tratamento não é realizado, há óbito de pelo menos um feto em 95% dos casos. Com o tratamento de ablação com laser dos vasos placentários por via endoscópica, a sobrevida de pelo menos um dos gêmeos é de 80%”, explica o Dr. Fábio Peralta, cirurgião fetal do Hcor, especialista neste tipo de procedimento.

Hérnia Diafragmática Congênita – HDC

É um defeito no diafragma (músculo envolvido nos movimentos respiratórios, que separa o tórax do abdômen – em que os órgãos abdominais, como fígado, estômago, intestino, sobem para a região torácica e ocupam o local onde ficam os pulmões). Desta forma, os pulmões do feto não desenvolvem adequadamente. A incidência dessa doença é de aproximadamente 1/4000 gestações. Em casos muito graves, quando há herniação do fígado para o tórax fetal, a chance de sobrevida pós-natal dos afetados é menor do que 10%.

A intervenção nesses casos é feita ocluindo-se temporariamente a traqueia do feto com um pequeno balão de silicone, o que faz com que os pulmões se expandam, melhorando a chance de sobrevida do neonato.

A oclusão traqueal fetal é realizada somente nos casos extremamente graves, sendo a sobrevida nos casos em que a oclusão traqueal foi realizada, de aproximadamente 50% (contra menos de 10% se a conduta expectante no pré-natal for adotada).

Mielomeningocele fetal (espinha bífida aberta)

A mielomemingocele (MMC) é uma malformação do sistema nervoso central que corre em 1 a cada 1000 recém-nascidos no Brasil. É um defeito na coluna, que leva à exposição de raízes nervosas e da medula e pode causar paralisia dos membros inferiores, restrição no desenvolvimento intelectual, disfunções intestinais e gênito-urinárias. Há pouco mais de uma década, tem sido proposta a correção intraútero da MMC, para diminuir esses danos neurológicos. Vários estudos demonstraram os benefícios da correção intrautero da MMC. Nosso grupo já realizou mais de 300 cirurgias. Com elas conseguimos confirmar que as crianças com MMC têm melhores chances de andar sem uso de auxílio e melhor desenvolvimento intelectual.

Intervenções no coração fetal

Algumas anomalias do coração do feto podem se beneficiar de intervenções ainda na vida intrauterina. O objetivo destas intervenções é prevenir a parada do crescimento de um ou outro ventrículo que, devido a obstrução da válvula cardíaca à frente, pode parar de crescer na gestação e levar ao que chamamos de coração univentricular. São essas a estenose valvar aórtica crítica e a atresia pulmonar com septo íntegro ou estenose pulmonar muito crítica. Nestas doenças, através de uma agulha introduzida no ventre materno, é possível atingir a válvula entupida e, passando um balão especial, restabelecer o fluxo de sangue através desta. Outras doenças que necessitam uma ampla comunicação entre os átrios, como a hipoplasia do coração esquerdo, podem necessitar que esta comunicação seja ampliada. Aplicando-se o mesmo balão é possível ampliá-la e prevenir o dano irreversível aos pulmões fetal assim como, permitir uma condição de nascimento mais saudável. O Hcor já conta com mais 90 casos de cardiopatias tratadas intraútero e participa de um registro internacional de intervenções fetais, sendo um dos centros mundiais de maior experiência com estas técnicas.

Unidade Fetal Hcor

Em janeiro de 2009, o Hospital do Coração, referência no atendimento de cardiopatias congênitas, inaugurou a sua Unidade Fetal. Há aproximadamente 30 anos atuando na área de cardiologia pediátrica, a unidade foi criada com o objetivo de oferecer o que há de mais moderno no diagnóstico e tratamento precoce de cardiopatias congênitas graves.

Ampliando a sua atuação a unidade conta hoje não só com o atendimento cardiológico, mas também com todo o arsenal diagnóstico e terapêutico disponível na medicina fetal.

Dispondo de uma equipe obstétrica especializada em gestações de alto risco e da mais especializada equipe de medicina fetal, o HCor se destaca como um dos serviços mais completos nesta área do país dispondo das mais modernas técnicas terapêuticas para o tratamento de anomalias de toda natureza que ocorrem e são diagnosticadas ainda na vida fetal.

Todo o processo gestacional de alto risco é acolhido por uma equipe multidisciplinar que conta com psicólogos, nutricionistas, enfermeiros e cardiologistas fetais e pediátricos. O obstetra da paciente é convidado a fazer o parto na própria instituição, onde uma equipe de neonatologistas e cardiologistas pediátricos recebe o bebê já na hora do parto. A programação terapêutica já realizada na vida fetal é instituída na sala de parto e o bebê é direcionado para uma unidade de terapia neonatal especializada em cardiologia neonatal e pediátrica.

O Hcor dispõe de uma equipe de especialistas em todos os seguimentos que envolvem o tratamento da criança cardiopatia, incluindo ecocardiografistas, imaginologistas, clínicos, intervencionistas e cirurgiões. Além disso, dispõe de equipamentos modernos para o mais refinado diagnóstico e todo arsenal terapêutico, incluindo uma sala híbrida e suporte circulatório como ECMO e outros dispositivos de assistência.