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HCor desenvolve estudo inédito sobre eficácia da cirurgia bariátrica para controle da hipertensão arterial

HCor desenvolve estudo inédito sobre eficácia da cirurgia bariátrica para controle da hipertensão arterial

Pesquisa, que acompanhou 100 pacientes hipertensos e com índice de massa corporal entre 30 e 40 kg/m2, durante um ano, constatou que 83,7% dos participantes conseguiram controlar a doença após o procedimento

 Mais da metade das pessoas com sobrepeso são hipertensas e a prevalência de hipertensão é cerca de três vezes maior em pacientes obesos. A doença também está associada a outras complicações como o diabetes, dislipidemia e o risco cardiovascular. A cirurgia metabólica, cada vez mais, tem se mostrado uma alternativa eficaz para tratar indivíduos obesos – com estas doenças que não respondem satisfatoriamente às terapias clínicas.

Para avaliar a eficácia da cirurgia bariátrica no controle da hipertensão arterial foram estudados 100 pacientes hipertensos com obesidade grau 1 e 2, durante o período de um ano. No estudo, desenvolvido no HCor (Hospital do Coração), os pacientes foram divididos em dois grupos de 50 pacientes de forma randomizada (aleatória). Um grupo foi submetido à cirurgia de “Bypass gástrico em Y de Roux”- cirurgia de redução do estômago mais praticada no Brasil  associado ao tratamento medicamentoso, e o outro grupo recebeu apenas o tratamento medicamentoso associado às orientações dietéticas e mudança do estilo de vida (com objetivo de perda de peso).

O objetivo principal do estudo foi avaliar a redução de pelo menos 30% da prescrição de medicações para hipertensão, mantendo a pressão controlada. Também foram avaliados outros fatores de risco cardiovascular como perfil lipídico, glicemia e inflamação. Intitulado Gateway, o estudo será apresentado no Congresso da American Heart Association, na sessão “Latest Insights into Hypertension Management”, uma das mais importantes do Congresso, em Anaheim – Califórnia.

O resultado: de acordo com o Dr. Carlos Schiavon, cirurgião bariátrico e principal investigador do estudo no Instituto de Pesquisa HCor (Hospital do Coração), no grupo dos 50 pacientes que foram submetidos à cirurgia bariátrica, 83,7% dos pacientes conseguiram reduzir o número de medicações e manter a pressão controlada, enquanto apenas 12,8% atingiram este objetivo no grupo clínico. “Ainda mais importante, 51% dos pacientes operados conseguiram manter a pressão controlada sem nenhuma medicação”, afirma o cirurgião bariátrico do HCor.

Para Dr. Schiavon, este estudo reforça o conhecimento científico sobre a ação benéfica da cirurgia bariátrica nas doenças que compõem a síndrome metabólica, como diabetes e hipertensão. “A cirurgia bariátrica tem efeitos positivos muito além da perda de peso. Os cardiologistas poderão ter mais uma opção para tratamento de pacientes obesos e hipertensos, principalmente os de mais difícil controle”, reforça. O resultado do estudo será publicado, simultaneamente, no dia 13 de novembro, na revista Circulation, uma das principais publicações científicas do mundo.

Hipertensão e obesidade no Brasil:

Segundo o cirurgião bariátrico do HCor, aproximadamente 25% da população brasileira têm hipertensão, e a incidência aumenta progressivamente com o aumento do peso. A doença é o fator de risco cardiovascular mais importante, estando associada ao aumento da incidência de AVC e do infarto agudo do miocárdio.

Estima-se que 75% dos pacientes hipertensos recorram a pelo menos duas medicações para o controle da doença, o que não só interfere no orçamento, como impõe dificuldades de adesão, acesso ao tratamento e efeitos colaterais indesejados. Para o diretor do Instituto de Pesquisa do HCor, Dr. Otávio Berwanger, o estudo comprovou os benefícios da cirurgia bariátrica para pacientes com este perfil, e os pacientes terão uma alternativa para melhorar a saúde.

“Evidências recentes sugerem que os procedimentos cirúrgicos podem melhorar o perfil metabólico, reduzindo os níveis de lipídios e levando ao controle da glicemia. Além da redução de peso, a pressão sanguínea é um dos múltiplos fatores de risco que parece significativamente melhorar após a cirurgia, em comparação com o tratamento medicamentoso. O estudo Gateway mostrou que um percentual significativo de pacientes hipertensos descontinuou o uso de remédios após o bypass gástrico”, explica Dr. Berwanger.

Os riscos da obesidade abdominal

O maior risco da obesidade acarretar complicações cardiovasculares está no excesso de gordura localizada na região do abdômen. A obesidade abdominal é causa importante para o aumento da glicemia, do colesterol e triglicérides (dislipidemia), apneia do sono, hipertensão e, até alguns tipos de câncer.

A hipertensão arterial sobrecarrega o coração, podendo causar hipertrofia (espessamento das suas paredes), dilatação e insuficiência cardíaca. “A simultaneidade de hipertensão e dislipidemia facilita o desenvolvimento de doença arterial coronária (DAC), com risco de complicações como infarto agudo do miocárdio (IAM) ou ainda, morte súbita”, alerta Dr. Schiavon.

No cérebro, a principal complicação é o acidente vascular cerebral isquêmico (AVC). Nos rins, o comprometimento da circulação arterial pode levar à insuficiência renal crônica, requerendo o uso de filtração artificial do sangue (hemodiálise) seguida de transplante renal.

Com o passar do tempo, o descontrole da pressão pode causar sérios danos às artérias, aumentando o risco de doenças como infartos, derrames, insuficiência renal, insuficiência cardíaca, entre outros problemas. “Vale lembrar que há outros fatores de risco para o desenvolvimento da hipertensão, como histórico familiar, idade, consumo excessivo de sal, diabetes, abuso de álcool, vida sedentária e cigarro”, orienta.