Procedimento inédito na cidade de São Paulo preserva fertilidade em casos de câncer no ovário

Procedimento inédito na cidade de São Paulo preserva fertilidade em casos de câncer no ovário

Técnica, que combina a cirurgia de retirada do órgão com a coleta simultânea dos óvulos, será realizada hoje no Hcor

São Paulo, abril de 2022 – O câncer de ovário é a segunda neoplasia ginecológica mais comum, atrás apenas do câncer do colo do útero, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA). As estatísticas mostram que, todos os anos, são registrados quase 7 mil novos casos e mais de 4 mil mortes. Ainda que a doença seja mais prevalente após a menopausa, mulheres em idade fértil também podem desenvolver o tumor, principalmente aquelas que não tiveram filhos. Para oferecer a possibilidade da gestação àquelas que a desejam, existe um procedimento ainda pouco difundido no Brasil. Trata-se da coleta dos óvulos extracorpórea, após a retirada do órgão. O procedimento, que será realizado hoje no Hcor, é o primeiro na cidade de São Paulo e o 8º descrito no mundo.

Segundo a especialista em câncer ginecológico do Hcor, Dra. Geórgia Cintra, a paciente tem 38 anos e um tumor no ovário. “Antes de descobrir a doença, ela já estava tentando engravidar há mais de um ano. Como este é um sonho dela, oferecemos um tratamento que combina a cirurgia oncológica com a coleta de óvulos no mesmo ato cirúrgico. Para tal, a paciente recebeu medicações que estimulam o amadurecimento de vários óvulos. No dia em que será realizada a coleta destes óvulos, faremos a cirurgia de retirada do ovário tumoral em ambiente cirúrgico e uma equipe da clínica de fertilização irá extrair os óvulos do ovário removido, em uma técnica chamada ‘ex vivo’, ou seja, quando o órgão já está fora do corpo”, revela.

O diferencial desta técnica é que os óvulos serão coletados do ovário já extraído do corpo da mulher. “Como o tumor está dentro do órgão, pelo procedimento tradicional, que seria a aspiração via vaginal, haveria um grande risco de contaminação por células cancerígenas. Ao realizar o procedimento extracorpóreo, a clínica de fertilização consegue fazer a coleta de maneira segura. Para aumentar as chances de a paciente realizar o sonho da gestação, também serão coletados óvulos do órgão que será preservado. Os óvulos serão congelados e a paciente poderá dar continuidade ao processo de fertilização, após finalizar o tratamento para o câncer de ovário”, explica a Dra. Geórgia.

A especialista do Hcor esclarece que existem outras formas de preservação de fertilidade em pacientes com câncer de ovário inicial. Porém, neste caso específico, devido à dificuldade prévia para engravidar e à idade da mulher, a fertilização in vitro, que consiste na formação do embrião por meio de reprodução assistida, será necessária. “Quanto mais óvulos forem obtidos, maiores as chances de gravidez, por isso a importância de se extrair os óvulos do ovário em que havia o tumor. A média de óvulos congelados, em pacientes que realizam oncopreservação, é de 8,5 óvulos por captação. A chance de gestação varia de 4,5 a 12% por óvulo congelado, a depender da idade de congelamento”.

Câncer silencioso e letal

Estar atenta aos sintomas do corpo e realizar acompanhamento ginecológico regular é fundamental para detectar alterações. Os sinais e sintomas do câncer de ovário são inespecíficos, mas em casos mais avançados, a mulher pode apresentar inchaço e dor abdominal, perda de apetite e mudanças no hábito intestinal e/ou urinário. Havendo suspeita, o médico pode solicitar um exame de imagem, como o ultrassom transvaginal ou ressonância magnética.

A confirmação do câncer é feita com a biópsia realizada após a cirurgia. O tratamento varia de acordo com o tipo e o estágio da doença. “O câncer de ovário costuma ser bem agressivo, mas em mulheres em que o tumor estava restrito ao ovário e com menos de 44 anos, a chance de sobrevida pode chegar a 91%. Já para aquelas com mais de 60 anos, a taxa cai para 40%”, finaliza a especialista em câncer ginecológico do Hcor, Dra. Geórgia Cintra.