Procedimento intrauterino de alta complexidade assegura   qualidade de vida ao bebê

Procedimento intrauterino de alta complexidade assegura qualidade de vida ao bebê

Com um ano de idade, Benício é prova da eficiência do procedimento invasivo realizado quando ainda estava na barrida da mãe

Mariene Fadel estava na 22ª semana de gestação quando, por meio do exame morfológico, descobriu que o seu bebê apresentava um problema no coração. Depois da realização do morfológico, Mariene fez o ecocardiograma fetal, no qual foram detectadas duas anomalias cardíacas em seu bebê: a Estenose Pulmonar Crítica (estreitamento na válvula pulmonar ou abaixo, na artéria pulmonar) e a Hipoplasia do Ventrículo Direto (redução da função de formar o ventrículo). “Ao receber esses diagnósticos parecia o fim do mundo”, declarou Mariene.

No HCor – Hospital do Coração, em São Paulo, a gestante foi atendida pela equipe da Dra. Simone Pedra, cardiologista pediátrica e fetal, para avaliar o caso. A alternativa para o futuro saudável de Benício foi um procedimento invasivo chamado valvoplastia pulmonar fetal. Esta cirurgia é feita quando o bebê ainda está na barriga da mãe. O HCor é referência no Brasil neste tipo de cirurgia. A equipe é multidisciplinar constituída do especialista em medicina fetal, do cardiologista fetal, do intervencionista pediátrico e do anestesista.

“Optamos por este procedimento invasivo pelo risco do lado direito do coração do Benício parar de crescer e também parar de funcionar. Neste procedimento uma agulha de 15 centímetros é introduzida na barriga da mãe e, após atingir a cavidade uterina é direcionada para tórax do bebê até o interior do coração. Quando a agulha é posicionada no local desejado, um balão é introduzido através da agulha e insuflado através da estrutura a ser dilatada”, detalha o Dr. Fabio Peralta, especialista em medicina e cirurgia fetal do HCor e responsável por este procedimento, juntamente com o Dr. Carlos Pedra, intervencionista pediátrico.

Segundo a cardiologista pediátrica do HCor, este era o melhor momento para a cirurgia, já que o coraçãozinho de Benício apresentava potencial para voltar a se desenvolver após a intervenção. Caso o procedimento intrauterino não fosse realizado, Benício poderia ter graves consequências no futuro, pois a hipoplasia do ventrículo direito resultaria em apenas um ventrículo funcionante, o esquerdo.

Nestes casos, o bebê precisa passar por pelo menos três estágios cirúrgicos, 1º – logo após o nascimento, o 2º – entre 4 e 6 meses e o 3º – próximo aos três anos de idade, para que a circulação aconteça de forma apropriada e não haja mistura do sangue pobre em oxigênio com o rico em oxigênio, o que leva à cianose.

Neste momento, na tomada da decisão de autorizar ou não a cirurgia havia uma grande preocupação dos pais de Benício pelo risco de morte que ele teria. “Houve muita união entre nós para esta decisão. Nosso medo de perder o bebê, já que levei três anos para engravidar e já estava com 34 anos de idade, é o que mais pensava. Sem dúvidas a experiência da equipe e os cuidados que tiveram comigo e meu filho, desde o primeiro atendimento, fez com que decidíssemos realizar a cirurgia”, relata a mãe de Benício.

O procedimento foi realizado com apenas 25 semanas gestacionais. A anestesia geral foi dada em Benício, via intra utero e aplicada na perninha do bebê. Já a mãe recebeu anestesia peridural. Após o procedimento, a equipe explicou à Mariene que Benício poderia passar mais algumas horas sem se mexer devido à anestesia fetal, mas que isso era normal. Após poucas horas a mãe voltou a sentir os movimentos do bebê e conseguiu ficar mais tranquila.

Com 39 semanas de gestação, no dia 24 de março de 2014, os pais finalmente conheceram o rostinho do Benício. Uma criança corada, forte e saudável. Porém os pais sabiam que, após um dia de vida, o recém-nascido faria um cateterismo, (procedimento realizado por meio da veia da virilha do bebê) e usaria um stent no coração para ajudar a manter o fluxo sanguíneo para os pulmões. Então os pais permitiram a cirurgia com total confiança.

Mais uma vez, o resultado da intervenção foi bem sucedido. Depois de seis dias da intervenção, Benício recebeu alta e retornou ao HCor, após 15 dias de sua saída hospitalar. O quadro de Benício era cada vez mais animador para a equipe médica. “Por isso, as consultas passaram a ser trimestrais e, em janeiro deste ano, passaram a ser anuais, já que Benício está evoluindo de maneira desejada por todos”, revela Dra. Pedra, do HCor.

“Por meio de tratamentos intrauterinos possibilitamos às crianças, ainda no útero da mãe e após o nascimento, uma recuperação mais rápida, proporcionando um coração mais saudável, bem como um tratamento menos agressivo. E o mais importante oferecer uma qualidade de vida melhor em todas as fases da criança” declara a especialista do HCor.

Para a mãe de Benício, após o período complicado no qual passou há possibilidade de engravidar novamente. “Não foi nada fácil o que ocorreu, mas hoje com os avanços da cardiopediatria e equipe altamente capacitadas, a expectativa de vida da criança cardiopata aumenta. Então, o medo de outro filho, já não existe mais”, finaliza Mariene.

Sobre a Cardiopediatria e Unidade Fetal HCor

Em janeiro de 2009, o Hospital do Coração, referência no atendimento de cardiopatias congênitas, inaugurou a sua Unidade Fetal. Há aproximadamente 30 anos atuando na área de cardiologia pediátrica, a unidade foi criada com o objetivo de oferecer o que há de mais moderno no diagnóstico e tratamento precoce de cardiopatias congênitas graves.

Ampliando a sua atuação a unidade conta hoje não só com o atendimento cardiológico, mas também com todo o arsenal diagnóstico e terapêutico disponível na medicina fetal.

Dispondo de uma equipe obstétrica especializada em gestações de alto risco e da mais especializada equipe de medicina fetal, o HCor se destaca como um dos serviços mais completos nesta área do país dispondo das mais modernas técnicas terapêuticas para o tratamento de anomalias de toda natureza que ocorrem e são diagnosticadas ainda na vida fetal.

O HCor oferece todo suporte aos portadores de cardiopatia congênita, independente da idade. Quando há suspeita de cardiopatia no feto, a mãe passa por um ecocardiograma específico para avaliar o coração dele ainda dentro do útero. Se a anomalia for confirmada, uma equipe multidisciplinar é designada para dar início ao tratamento, incluindo cardiologista fetal, obstetra, psicóloga, assistente social e enfermeiro especializado. Se for preciso, o parto é conduzido na Unidade Fetal para evitar o transporte de bebês com doenças tão delicadas e, logo após o nascimento, o tratamento da criança já tem início.

Além da qualificação das equipes e da tecnologia disponível, o hospital se preocupa em oferecer um atendimento humanizado e acolhedor. Por isso, foi iniciado há mais de dez anos um projeto de apoio às mães das crianças internadas, coordenado pelas voluntárias do HCor. Há, inclusive, uma brinquedoteca onde se desenvolvem atividades lúdicas, adequadas à idade e à condição clínica dos pequenos pacientes.