×

Hcor Explica / Cardiologia

Um alerta sobre doença arterial coronária em mulheres

Um alerta sobre doença arterial coronária em mulheres

A doença arterial coronária (DAC) é a principal causa de morte no mundo e acomete ambos os sexos. Entretanto, nas mulheres, particularidades relacionadas aos mecanismos fisiopatológicos e ao perfil clínico implicam na diferenciação do diagnóstico, manejo e evolução da doença.

Cerca de um terço dos óbitos em mulheres por ano são atribuídos às doenças cardiovasculares. Este cenário pode se acentuar diante do envelhecimento da população, pois reconhecidamente, a prevalência e a morte por esta causa aumentam após a menopausa.

O entendimento sobre as diferenças relacionadas ao sexo e ao gênero no âmbito da saúde cardiovascular é o primeiro passo para reverter a situação atual, permitindo o controle dos fatores de risco e a abordagem clínica ampla e direcionada.

A DAC é a principal causa de infarto em mulheres. Em uma grande proporção dos casos, estes eventos podem ser prevenidos por meio do controle dos fatores de risco, mudança do estilo de vida e intervenções médicas específicas.

Inicialmente, é necessário implementar uma abordagem precoce e eficaz para controle dos fatores de risco tradicionais, os quais exercem maior impacto clínico nas mulheres quando comparados ao sexo masculino. Destacam-se, além do diabetes mellitus, a hipertensão arterial sistêmica, a dislipidemia, o tabagismo, a obesidade e o sedentarismo.

Paralelamente, as mulheres vivem experiências únicas como a gravidez e a menopausa, que podem aumentar o seu risco cardiovascular.

A presença de doenças inflamatórias e autoimunes, depressão, síndrome dos ovários policísticos, uso de contraceptivo hormonal, doença hipertensiva da gravidez, diabetes gestacional e terapia hormonal na menopausa podem contribuir para o aumento dos eventos cardiovasculares nesta população.

Adicionalmente, uma atenção especial deve ser voltada a maior ocorrência de burnout em mulheres, além da exposição às situações de vulnerabilidade social que necessitam de ações específicas complexas.

Um aspecto importante a ser ressaltado é a necessidade de se ampliar o conhecimento a respeito deste tema relevante. Para se ter uma ideia, estima-se que 60 milhões de mulheres nos EUA vivam com alguma forma de doença cardiovascular, entretanto, apenas cerca da metade (56%) reconhece esta como a principal causa de mortalidade entre elas.

Por essa razão, as mulheres comumente negligenciam os próprios sintomas, a ponto de recorrerem mais tardiamente aos serviços de saúde diante de um quadro de infarto do miocárdio, por exemplo. Não raro também é a demora no diagnóstico médico por desconhecimento de aspectos importantes. Como exemplo, podemos citar a presença de sintomas atípicos que muitas vezes não são valorizados e acabam sendo relacionados a quadros de ansiedade. Este atraso no diagnóstico, infelizmente, exerce impacto negativo na sobrevida.

Algumas situações específicas relacionam-se a mecanismos fisiopatológicos menos frequentes e se traduzem em apresentações clínicas de isquemia miocárdica ainda mais desafiadoras, como é o caso da erosão/rotura de placas ateroscleróticas não obstrutivas, dissecção espontânea da artéria coronária, vasoespasmo e embolia/trombose coronariana.

A isquemia miocárdica sem lesões coronárias obstrutivas é mais prevalente no sexo feminino e por não ser comumente diagnosticada, está relacionada a sintomas redicivantes, internações frequentes e procedimentos médicos repetidos, como é o caso da coronariografia.

Diante do cenário atual, é necessário implementar estratégias que visem controlar os fatores de risco, ampliar o diagnóstico e oferecer uma abordagem terapêutica ampla e individualizada.

Deve-se ter em perspectiva nas instituições médicas a criação de centros especializados na saúde cardiovascular das mulheres que propicie a abordagem multidisciplinar desta população, incluindo ações de conscientização e agindo de forma preventiva e terapêutica, levando também em consideração os aspectos psicossociais e socioeconômicos envolvidos.

Desta forma, poderemos alcançar a redução dos desfechos cardiovasculares e seu impacto na saúde global das mulheres.

Por Dra. Adriana Moreira

Cardiologista intervencionista do Hcor