Em sintonia com o futuro


 

Professor Dr. Carlos Alberto Buchpiguel
Professor Dr. Carlos Alberto Buchpiguel

A medicina está mais rápida e precisa. Nos últimos 30 anos, os recursos para diagnosticar doenças aumentaram expressivamente. Hoje, existem tecnologias avançadas e métodos complexos para dar a direção certa a médicos de todas as especialidades.

“Os exames alcançaram um detalhamento que até pouco tempo não se imaginava. Detectamos doenças antes das alterações anatômicas”, contextualiza o Dr. Carlos Alberto Buchpiguel, Superintendente Médico do HCor e Diretor do Centro de Medicina Nuclear do Departamento de Radiologia da FMUSP.

Em entrevista à Hcor Saúde, o Dr. Buchpiguel mostra como os avanços do diagnóstico por imagem estão mudando a medicina e revela quais são os novos desafios para melhorar a qualidade de vida do paciente.

HCor Saúde – Como foi o processo de evolução tecnológica do diagnóstico por imagem?

Dr. Carlos Alberto Buchpiguel – A evolução do diagnóstico por imagem atingiu um status extremamente elevado nas últimas três décadas. Antes, o único recurso existente era o raio X. Depois vieram ultrassom, tomografia computadorizada, cintilografia e ressonância magnética. Todos os métodos avançaram e não só melhoraram o detalhamento como também, com mais recursos, permitiram detectar lesões cada vez menores.

Em certos casos, os exames modernos chegam a detectar anormalidades estruturais nos órgãos acometidos pela enfermidade, como alterações da forma, do tamanho e da densidade. A sensibilidade desses métodos aumentou de forma fantástica a ponto de possibilitar a detecção de lesões submilimétricas. O método é tão sensível para detectar pequenas alterações que às vezes o olho humano não tem a capacidade de perceber esse nível de grandeza de alteração na estrutura e a complexidade dessas alterações nos órgãos do corpo humano.

H.S. – Existe uma ordem cronológica dessa evolução?

C.A.B. – Podemos dizer que na década de 80 detectávamos lesões entre 2cm e 5cm. Nos anos 90, era possível detectar lesões entre 0,5cm e 1cm. Já em 2000, de 0,1cm a 0,5cm. De 2005 em diante ficou possível detectar lesões abaixo de 1 milímetro.

H.S. – E qual o limite desse avanço?

C.A.B. – O avanço é contínuo. O que acontece agora é uma busca para o desenvolvimento de aparelhos cada vez mais rápidos. Alguns equipamentos que usam radiação ionizante estão sendo aprimorados para fazerem o mesmo diagnóstico com menos exposição à radiação. Aliado a isso os métodos funcionais, como a cintilografia, também têm evoluído para permitir a detecção de doenças nas suas bases moleculares. Assim, é possível detectar a doença mesmo antes que alterações anatômicas estejam presentes num determinado órgão. O paciente por exemplo pode apresentar algum sintoma, mas não existem alterações anatômicas no órgão comprometido pela doença que possam ser detectadas com a tecnologia atualmente disponível. Claro que não é tão simples fazer esse diagnóstico, como não é simples reconhecer que o sintoma está relacionado à determinada doença, mas os avanços permitem chegar num nível de detalhamento que até pouco tempo não se imaginava. Assim pode-se detectar a doença no nível molecular, caracterizando uma forma muito precoce e específica de detecção da doença através da imagem.

Podemos dizer que na década de 80 detectávamos lesões de 2cm a 5cm. Nos anos 90, passamos para 0,5cm a 1cm. Já em 2000, de 0,1cm a 0,5cm. De 2005 em diante, ficou possível detectar lesões abaixo de 1 milímetro

H.S. – Esses recursos facilitam então o papel do médico?

C.A.B. – Pelo contrário. O mais difícil hoje para o médico é entender como ele vai definir a melhor estratégia diagnóstica, considerando esse grande avanço dos métodos de diagnóstico por imagem e pensando também nos custos. Uma questão que deve ser discutida atualmente no atendimento ao paciente é: qual é a melhor prática médica nos dias atuais? Um grande guru da área de economia em saúde, da Universidade de Harvard, diz que a melhor prática é aquela que consegue o melhor resultado possível para o paciente com determinada doença, com o menor custo possível. É uma razão de custo-efetividade. Melhor resultado com menor custo. Quem vai se destacar neste cenário é a instituição que conseguir promover a melhor assistência clínica aliado ao menor custo possível.

H.S. – Exames como raio X e ultrassom vão ficar obsoletos?

C.A.B. – Não, pois são exames baratos que entram na questão do melhor resultado com menor custo. O raio X pode ser encontrado em qualquer hospital ou clínica e algumas doenças são ainda melhor detectadas com ele, por exemplo, uma suspeita de pneumonia ou fratura óssea. Mesmo a suspeita de um tumor ósseo, quando o paciente apresenta sintomas, já significa que a doença está num estágio que provavelmente o raio X é ainda o método de mais baixo custo e de elevada eficiência para confirmar a suspeita clínica. Então, ele é barato, altamente disponível e resolutivo em muitas situações que por ventura haja indicação. O ultrassom é a mesma coisa. Baixo custo e altamente disponível. Não tem radiação. Para criança é fantástico e tem inúmeras aplicações na medicina fetal. O ultrassom também é excelente para avaliar glândula tireoide e fígado, além de ter sua importância diagnóstica muito bem estabelecida.

H.S. – A utilização de um tipo de exame pode anular outro?

C.A.B. – Os métodos às vezes competem entre si, mas geralmente se complementam. A escolha deles segue uma escala progressiva. Se temos indicação para raio X em uma determinada doença, mas ele não proporciona o diagnóstico, partimos para a tomografia. Se continuarmos sem diagnóstico, então passamos para a cintilografia e assim por diante. Isso se chama algoritmo diagnóstico e é uma estratégia definida e validada para justificar as etapas e métodos que devem ser utilizados nas diferentes cadeias de prioridade. São validados por guidelines revisados e formulados por equipes compostas de líderes e formadores de opinião nas respectivas especialidades médicas, coordenados ou elaborados por sociedades médicas, que vão analisar o que existe de evidência na literatura e também validar de acordo com sua experiência pessoal. É claro que, dependendo da doença, da evolução do quadro e outros aspectos, a indicação é feita diretamente para determinado exame, saindo dessa maneira do algoritmo diagnóstico proposto.

H.S. – O que o HCor tem feito para se adequar a este novo cenário?

C.A.B. – Com a expansão para outras áreas de atuação como, por exemplo, a radiocirurgia, salas híbridas de intervenção e oncologia, o HCor também está ampliando e buscando novas alternativas e tecnologias com o objetivo de melhor assistir seus pacientes. Um bom exemplo foi a criação do HCor Diagnóstico Unidade Cidade Jardim. Nossa capacidade de crescer na região da Paulista, seja vertical ou horizontalmente, é de certa forma limitada. Fizemos a opção de criar essa unidade avançada, não só para desafogar um pouco nosso centro de diagnóstico existente dentro do hospital, mas também para levar a tecnologia e a qualidade do HCor na área de assistência diagnóstica para perto de outras populações que, por ventura, não procuram o hospital pela distância relativamente longa entre o local de moradia ou mesmo de trabalho. A ideia é permitir e transportar a excelência do time diagnóstico para outras camadas populacionais da cidade, mantendo as mesmas regras, critérios e padrões de qualidade já conquistados na unidade hospitalar.

H.S. – Quais os principais desafios para manter a excelência do HCor em constante evolução?

C.A.B. – Temos que buscar sempre níveis mais elevados de eficiência, segurança e qualidade, sem perder o caráter de humanização que é uma marca registrada da instituição. Somos o primeiro hospital no Brasil a ser certificado para boas práticas clínicas no cuidado do infarto agudo no miocárdio e da insuficiência cardíaca congestiva, mas só isso não é suficiente. Temos que estar sempre aprimorando e oferecendo mais recursos tecnológicos e terapêuticos.